O mundo da Ikebana

“Compartilhar o belo através da arte da Ikebana e conectar pessoas e culturas no caminho das flores é nosso propósito.”

Ikebana do Brasil, uma Associação Cultural Nipo-Brasileira.

Associação de Ikebana do Brasil
ブラジルいけ花協会

Há mais de meio século promovemos a Arte da Ikebana criando espaços de integração entre seus mestres, praticantes e apreciadores e construímos pontes culturais ligando os povos através do caminho das flores.

Celebrando sessenta anos de atuação divulgando a arte da Ikeban
a no Brasil

Origem da Ikebana

nao mitashi / hana ni ake yuku / kami no kao”
( quero ainda ver / nas flores ao amanhecer / a face de um deus )
 Matsuo Bashō ( 松尾 芭蕉 ), poeta do período Edo, 1644 – 1694

Contemplar a natureza, apreciar as flores e usá-las como oferenda ou elemento de decoração é parte da cultura dos mais diversos povos ao redor do Mundo, mas ganhou contornos especiais ao caracterizar um importante aspecto da cultura tradicional japonesa.

As raízes da arte das oferendas florais remetem à Índia de Siddhartha Gautama, o príncipe que seria chamado de Supremo Budha ao alcançar a iluminação. Na doutrina budista, flores estiveram, desde o princípio, profundamente relacionadas com seus ensinamentos.

"Se pudéssemos ver com clareza o milagre de uma única flor, toda a nossa vida mudaria."
Interpretação livre dos ensinamentos de Buda

Segundo a tradição, no ano de 607, Ono-no-Imoko fora enviado à China como embaixador do Japão e lá adquiriu grande bagagem cultural e tomou contato com os fundamentos do Budismo, tornando-se mestre na doutrina de Budha e na arte da queima dos incensos e das oferendas florais.

Após retornar ao Japão, Ono-no-Imoko tornou-se monge adotando o nome monástico de Senmu Ikenobo. Oferecia flores, incensos e acendia velas em reverência à Buda e à memória de seus antepassados e transmitia a outros monges os fundamentos aprendidos do Budismo e a prática das oferendas em altares.

No Templo Rokkakudo (o Templo Hexagonal) sucessivas gerações de monges que ali viveram passaram também a adotar Ikenobo como sobrenome. Esses monges ficaram famosos por sua habilidade em arranjar flores. Considera-se o Templo Rokkakudo, em Kyoto, como berço da Ikebana como conhecemos hoje.

Já nos registros históricos do século XV, o nome do monge Senkei Ikenobo aparece como “mestre dos arranjos florais”, considerado como um dos arranjadores de flores mais populares da época.

Com a expansão do Budismo no Japão, o costume de arranjar flores com carinho e ornamentar altares com arranjos florais tornou-se mais e mais popular e foi a partir dessa origem que o significado do termo Ikenobō ( 池坊 ) chegou aos nossos dias sendo usado tanto como “origem da ikebana” como para designar a mais tradicional escola de arte da ikebana.

As primeiras referências a “hastes de flores delicadamente arranjadas em vasos” aparecem nos registros poéticos dos Séculos VIII e IX na mais antiga coletânea da poesia japonesa, Man’yōshū ( 万葉集 ), “Coleção das Dez Mil Folhas“*, compilada no período Nara por volta de 759 d.C.


História da Ikebana – Kaō irai no Kadenshō ©Ikenobo

No mais antigo manuscrito japonês sobre Ikebana, datado de 1486 e denominado Kaō irai no Kadenshō ( 花王以来の花伝書 ), “A biografia das flores desde Kao“, autor desconhecido, registrou em desenhos e textos 47 tipos de arranjos florais, relacionando materiais e modos de exibição. Junto com o manuscrito de Senno Ikenobō, denominado “Senno Kuden“, datado de 1542, esses manuscritos estabeleceram a prática da Ikebana como filosofia e como arte.

Nesse mesmo período, a arte floral japonesa começou a estruturar-se como academia artística com títulos, graus, licenças e certificados.

Criar Ikebana é trilhar o Kadō*, o caminho das flores.

*Vide Biblioteca do Site

Sobre nós

A Associação de Ikebana do Brasil é uma organização de arte e cultura que congrega Escolas Brasileiras de Ikebana para cultivo e difusão da arte floral japonesa e interação entre mestres, artistas e apreciadores.

Em 8 de janeiro de 1962 a Associação foi constituída como Organização da Sociedade Civil ( OSC ), sem fins lucrativos.

Nossa causa é o Ser Humano envolto no belo das flores e sua possibilidade de atingir seu potencial pleno de auto-expressão e, assim, contribuir para a evolução social através do Kadō, o caminho das flores.

Somos a referência brasileira de associação de Arte e Cultura que, através da Arte da Ikebana, contribui para fortalecer o diálogo cultural Brasil – Japão, aproximando povos e culturas. Para isso, dialogamos com outras iniciativas similares em todos os campos da Arte.

Esse diálogo, resultado de um esforço permanente de todos os Associados, faz parte de nossos valores e se torna presente e possível a cada novo evento coletivo.

Para divulgar a Arte da Ikebana promovemos cursos, oficinas, seminários, exposições e demonstrações.

Divulgamos coleções de imagens de arranjos criados por Artistas Associados.

Anualmente, publicamos nosso tradicional Calendário e a Agenda de Bolso com ikebanas exclusivas e inéditas, especialmente criadas a cada nova edição.

Escolas e Estilos

A Associação de Ikebana do Brasil estruturou-se como organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos no ano de 1962, congregando as diversas Escolas de Ikebana atuantes no País, cada uma delas cultivando seu estilo e formatos próprios.

Ikebana é a arte do design floral japonês. Em essência, uma forma de arte escultural onde a natureza e a criatividade humana se unem para criar arranjos de flores carregados de significados, narrativas e relevância histórica.

A Ikebana destaca as flores, mas também, enfatiza os ramos, hastes, folhas e frutos. Sutil, delicado e efêmero, o arranjo floral japonês integra os elementos do design em suave equilíbrio com a base ou os vasos nos quais são expostos.

Simbolismo, harmonia, ritmo e cor exalam da forma e das linhas e contornos de cada escola e de cada estilo tornando cada arranjo único. São esses os elementos essenciais que definem a Ikebana como expressão artística.

Arte popular no Japão, a Ikebana conquistou e continua ganhando adeptos nos mais diversos países. Estima-se que existam mais de 3.000 núcleos de estudo de ikebana ao redor do mundo, com mais de 15 milhões de praticantes da arte japonesa dos arranjos florais.

Inúmeras são as Escolas de Ikebana, cada uma com sua história e sua doutrina artística. Ikenobo (1462) e Ohara-ryū (1895) são escolas tradicionais, enquanto Sogetsu (1927) destaca-se como escola contemporânea.

Cada Escola expressa um design que lhe é característico e pode ser reconhecida por seu estilo, seus formatos, sua estrutura e seu método próprio de transmissão do conhecimento que o aprendiz acessa passo a passo.

É na busca estética e criativa, renovada a cada novo arranjo, que o ikebanista, ao trilhar o caminho das flores, o Kadō, conscientemente ou não, expande os limites de sua relação com a natureza e o divino no Universo.

A arte da Ikebana resulta de um envolvente e profundo diálogo entre o artista e o material floral, entre o artista e as ferramentas de trabalho que usa para compor suas criações.

Formatos e Estilos

A seguir, conheça alguns dos marcantes formatos surgidos ao longo da história da Ikebana.

Rikka

Rikka, um clássico da Ikenobo, é o formato usado para representar a grandiosidade da natureza com todos os seus elementos, desde montanhas altas e baixas, próximas ou distantes, colinas, bosques, rios, vilas e cidades. A água no vaso representa o oceano. O caule posicionado cerca de um punho acima do nível da água simboliza a fonte da vida e é chamado de kiwa.

Shoka

 Fonte Ikenobo – Estilos de Arranjos – ( https://ikenobo.jp/english/about/ )

No final do século XVIII, a interação entre o estilo Rikka e o Nageire, em que as flores descansam livremente no vaso, deu origem a um novo estilo de arranjo chamado Shoka, que literalmente significa “flores vivas”.

Shoka é uma simplificacão do estilo Rikka. Quando expostos no “tokonoma” ( a sala de estar japonesa ), os arranjos desse estilo eram apreciados da posição sentada num tatami (cobertura de palha do piso), de frente para o arranjo.

Moribana

Fonte: Ohara/ Ikebana Internacional/ Autor: Criador: Masateru Fukushima

O formato Moribana, criado em vasos baixos, busca capturar o momento, como se a brisa soprasse o arranjo. A tridimensionalidade do arranjo é realçada.

Esse formato acompanhou mudanças nas tendências arquitetônicas que criaram espaços mais amplos onde os arranjos podiam ser observados por todos os ângulos, em 360 ​​graus.

Ikebana Contemporânea
( Jiyuka ou Estilo Livre )

“Ikebana tem suas raízes nos ritos e rituais atemporais de uma cultura antiga, mas sua reverência pela natureza nunca foi tão relevante quanto nesse nosso século 21, digital e consumista”, dizem Gaiger e Loxleyem em seu novo livro “Modern Ikebana: A New Wave in Floral Design, Outubro, 2020“.

A arte da Ikebana, projetada para fluir com as estações do ano e envolver tanto o artista quanto o espectador, vem carregada de significados e nos lembra de forma tangível, contemplativa e espiritual, nossa frágil conexão com a Mãe Natureza.

A prática da Ikebana é tanto uma arte quanto uma filosofia. Possui regras que incluem a importância do minimalismo visual e a adesão à natureza, frequentemente disposta numa estrutura triangular escalena (triangulo de lados desiguais) em formas que despertam emoções.

Tal como acontece com muitas das artes tradicionais, a Ikebana permite trazer sua prática para um contexto contemporâneo através da experimentação e da inovação nas formas e nos processos criativos. A Ikebana torna-se universal e contemporânea sempre que o artista se permite percorrer o Kado através de arranjos livres também chamados de Jiyuka.

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